O universo das plantas e seus mistérios fazem parte da minha vida desde cedo. Mas dentro desse universo as possibilidades são muitas. Sempre soube que de algum modo trabalharia com plantas, mas não imaginava que esse trabalho incluía benzer pessoas.
Comecei pelo estudo da magia, aos 18 anos na cidade onde nasci (Feira de Santana-BA). Eu ficava encantada quando lia nos livros de Wicca o capítulo sobre as ervas. Embora a maior parte das ervas não existissem no Brasil. Ao entrar na Faculdade de Farmácia/UFBA, já na capital (Salvador-BA) comecei a me abrir ao uso das plantas no contexto das religiões de matriz afro, principalmente quando tive a sorte de ser aluna da professora Mara Zélia.
Mara foi quem me levou pra conhecer os terreiros de candomblé, a feira de São Joaquim – trazendo esse olhar mais antropológico para as plantas medicinais – e a fazer garrafada. Mas logo que terminei a faculdade eu acabei não seguindo carreira acadêmica. Até tentei o mestrado com um projeto de pesquisa sobre o uso de plantas em cuidados com a saúde considerando seus aspectos empíricos, simbólicos e mágico religiosos em uma comunidade quilombola do recôncavo baiano. Mas o projeto não foi aprovado.
Quando descobri a saboaria natural, a aromaterapia, a perfumaria (depois de perder na seleção de mestrado) comecei a criar alquimias naturais, deixando a parte mágica um pouco de lado, focando mais na parte científica do meu conhecimento.
Foi durante a pandemia que passei a dar mais atenção ao meu autocuidado espiritual. Os banhos de ervas me faziam muito bem e comecei a oferecer esses produtos na minha loja virtual. E também perfumes programados com frequências específicas – a perfumaria mágica. Pronto. Meu servir com as ervas estava completo, certo? Errado! A espiritualidade queria mais de mim.
Comecei a benzer pessoas em 2012, após fazer um curso sobre ervas mágicas. O curso trazia muitas informações sobre o uso das ervas, mas a parte que tratava sobre benzimento foi que me chamou mais atenção.
Aí teve uma vez que o marido de uma amiga precisava de um benzimento e essa minha amiga sabia do meu trabalho com ervas e perguntou se eu poderia benzer ele. Eu fui lá benzer o moço. Levei um galho de arruda. Na hora que eu peguei na arruda pra benzer, meu braço direito se arrepiou todinho. Fiz o benzimento e ele se sentiu melhor.
Depois benzi pessoas da família, amigos, filhos de amigas minhas, mas eu não divulgava pra quase ninguém. Tanto que aposto que muita gente que me conhece pode estar surpresa com esse texto.
O tempo foi passando e preto velho começou a aparecer pra mim de muitas formas. Me chamando de volta pro caminho do benzimento. “Precisa disso mesmo, preto velho? Eu já trabalho com tanta coisa ligada às plantas…”.
Ele sempre me dizia que precisa sim. Que vai ser bom não só para a pessoa que for benzida por mim, mas que vai ser bom pra mim também.
Eu ainda tinha muitas dúvidas. Eu tinha uma imagem bem definida na minha mente do que seria uma benzedeira: aquela senhorinha de lenço na cabeça morando numa cidade do interior. Mas preto velho sempre muito bondoso e sábio ia me mostrando que era isso também mas não apenas isso. Que eu também poderia ser benzedeira aos quarenta e poucos. Ok. Não sou tão jovem assim. Mas também não sou uma senhorinha, nem moro em uma casinha simples.
Descobri que isso era puro preconceito. O que determina se você tem o dom de benzer não é a idade, muito menos onde você mora. Mas um tipo de mediunidade que se conecta facilmente com as dores das pessoas e com o objeto usado no benzimento (no meu caso, a conexão com as ervas).
Outra dúvida era com relação ao pagamento. Eu sempre benzi considerando a lei da troca. Mas eram trocas muito simbólicas. Quem entrou pra me ajudar com essa parte foi Ossaim: o patrono das ervas na tradição Yorubá. Dentro da cosmovisão Yorubá não existe problema em cobrar por serviços espirituais. Pelo contrário! O dinheiro inclusive faz parte da cura. E tenho 100% de certeza que minhas ancestrais se sentem orgulhosas de me ver levando meus dom de cura para mais pessoas e recebendo um pagamento justo por esse servir.
Levei um tempo para internalizar essas informações que fui recebendo. A mediunidade foi sendo refinada através da minha dedicação espiritual e hoje, após deixar tudo que não me serve mais no portal 11/11, venho tornar público meu ofício de benzedeira para quem sentir o chamado de cura através desse servir tão bonito e delicado, que me sinto honrada em poder oferecer.
Esse ofício começará a ser partilhado com o mundo no encontro ritualístico Benzer & Cacau. Eu irei conduzir um ritual de benzimento na força da aroeira e Carol irá conduzir um ritual da medicina da cacau. Cada uma com seus dons de cura, que juntos serão potencializados através da formação de uma poderosa egrégora. Para se inscrever, me manda um e-mail para [email protected] envie uma mensagem pelo direct do Instagram.
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Mona Soares é graduada em farmácia pela UFBA e especialista em manipulação cosmética pela ABEFARMA.
Estuda plantas medicinais, perfumaria mágica, bruxaria, aromaterapia, cosméticos e afins desde 1999.
É benzedeira e mentora de quem deseja se tornar alquimista.
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Fotos: Gabriela Brito