Você já parou para pensar em como seu sabonete é feito? Em tempos que estamos cada vez mais interessados em conhecer os meios de produção dos produtos que chegam até nós, essa é uma boa pergunta. Estamos presenciando escândalos envolvendo a indústria da carne, denúncias ligadas à escravidão na moda, então nada mais natural que queiramos saber como um item tão básico como o sabonete nosso de cada dia é feito.
O sabonete convencional – aquele que é facilmente encontrado nas prateleiras dos supermercados e farmácias – geralmente é feito com a gordura animal. A gordura passa pelo processo de saponificação e forma além do sabão, um umectante chamado glicerina. A glicerina é retirada do sabonete para ser utilizada na feitura de cremes capilares e corporais, pois é um produto muito valorizado dentro da indústria cosmética. Ela ajuda a suavizar a pele e atrair a tão desejada umidade pra ela. Por isso sabão convencional é pobre em glicerina, mesmo quando vem escrito “sabão glicerinado” na embalagem. Vocês já repararam que ele racha depois de um tempo? É porque não tem glicerina. Se o sabonete resseca daquele jeito, imagine a nossa pele. Depois que se tem essa “massa” saponificada da banha do boi/porco, já destituída da glicerina, acrescenta-se corantes sintéticos, lauril sulfato de sódio, perfumes artificiais, antioxidantes perigosos para a nossa saúde. Isso resulta em um sabonete que não é legal para nossa pele e muito menos para o planeta, pois seus componentes não são biodegradáveis, e o que desce pelo ralo é uma espuma bastante poluente.
Mas eu não estou aqui para falar detalhes desse sabonete. E sim te contar como um sabonete natural e artesanal é feito. Estou tomando como exemplo o SABONETE DE ALECRIM E UCUUBA da minha marca Ewé Alquimias, feito pelo método a frio. Em outro momento te conto como faço um sabonete pelo método a quente. (Edit: não vendo mais produtos no momento.)
A primeira coisa a ser feita é a fórmula. Combino os ingredientes de acordo com o tipo pele/couro cabeludo que desejo tratar. Além das propriedades cosméticas tonificantes (vou falar disso mais adiante) o sabonete de alecrim e ucuuba é muito revigorante em todos os aspectos. Sabe aquele banho que te “acorda pra vida”? Pois…
Depois, com a fórmula pronta, eu preparo o blend de óleos essenciais. Esse sabonete possui como principal óleo essencial o alecrim, mas possui também notas de lavandim, lavanda e sálvia esclaréia, além da oleo-resina de alecrim em quantidades generosas (ela é antioxidante da pele e confere uma nota verde de fundo que eu adoro). Todo esse “cheiro”é ancorado em um toque de patchouly old. Esse blend fica amadurecendo no escurinho do armário para que as notas perfumadas e naturais se fundam. Os óleos essenciais, além de deixarem o sabonete cheiroso, vão emprestar suas propriedades cosméticas, terapêuticas e vibracionais para ele.
Depois que o blend está maduro (mais um menos 1 mês), é hora de fazer o sabonete. Utilizo uma mistura de óleos e manteigas vegetais para preparar a massa do sabão: óleos vegetais em sua maioria orgânicos e/ou prensados a frio: palma, licuri, girassol, oliva e mamona fazem parte de muitos sabonetes feitos por mim.
Mas para dar aquele toque especial, escolho sempre, pelo menos um óleo ou manteiga premium. No caso desse sabonete, escolhi a manteiga de ucuuba. Ela é antiinflamatória, cicatrizante e antisséptica.
Depois que todas as gorduras são fundidas e a saponificação é iniciada através da mistura das gorduras com a lixívia (para saber mais sobre o processo de saponificação, >>CLIQUE AQUI<<), acrescento os outros ativos naturais previamente selecionados e pesados.
O alecrim em pó entra nessa fórmula e deixa o sabonete com aroma herbal, além de esfoliar e ajudar a remover células mortas; ameniza foliculite, sinais da idade, acne e seborréia. Ele é levemente esfoliante e o melhor: ao contrário das esferas de polietileno contidas em muitos esfoliantes convencionais, não polui (saiba mais >>AQUI<<).
Depois que o alecrim em pó e adicionado e misturado, eu coloco o blend de óleos essenciais que falei lá no começo. Óleos essenciais são ingredientes muito voláteis e para evitar que eles evaporem, adicionamos no final.
Quando todos os ingredientes estão incorporados e misturados, o sabão é enformado e fica 36 horas em um local aquecido e escuro, onde a saponificação continua acontecendo.
Passado esse tempo, o sabão é desenformado, cortado e passa por um período de cura de 35 dias. Nesse processo, o sabão matura. Ele seca e perde quaisquer resquício de hidróxido de sódio que ainda possa ter. De qualquer modo, para garantir que o sabão pode ser seguramente usado, medimos seu pH antes e depois da cura. Valores entre 8,5 e 10,5 são aceitáveis. Então, eles podem ser usados.
Fim, esse foi um sabonete feito com lindos ingredientes naturais que trará maciez, suavidade e cuidado para sua pele. Sua glicerina é mantida e soma-se a tantas outras propriedades magníficas das gorduras vegetais, óleos essenciais e ervas.
No caso do sabonete aqui descrito, ele é tonificante da pele e indicado tanto para pele oleosa quanto para a pele madura. Mas como isso é possível? As plantas possuem muitas moléculas ativas prontas para agirem em nosso benefício. Agem de maneira inteligente ao entrar em contato com os receptores da nossa pele. Por isso alguns cosméticos naturais possuem diversas aplicações e podem ser usados por diferentes tipos de pele. O alecrim é usado na forma de pó, oleoresina e de óleo essencial. Ele controla a oleosidade da pele e também é um ingrediente renovador da pele clássico. Cada etapa do processo foi realizada por mim, cuidadosamente e com muito carinho. E você pode usar esse sabonete com a consciência tranquila, pois ele é totalmente biodegradável. Um sabonete natural, feito à mão, transforma um simples banho em um ritual de autocuidado e respeito por si e pelo planeta.
NOTA: Uma antiga receita, que fez muito sucesso no séc XVII, continha alecrim como seu principal ingrediente. Se chamava Água da Rainha da Hungria. Diz-se que essa rainha se encontrava muito enferma, e após usar durante um ano uma água feita com alecrim, não só recuperou a saúde, como a beleza também , e desse modo foi pedida em casamento pelo rei da Polônia.
A primeira vez que fiz esse sabonete, foi em uma das minhas turmas de saponificação a quente. As alunas gostaram tanto que resolvi incorporar a fórmula ao arsenal de receitas da minha marca. Fiz algumas modificações e faço tanto pelo método a frio quanto a quente, mudando algumas coisinhas. Para ler o que uma das alunas achou desse sabonete, >>CLIQUE AQUI<<.
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Se você deseja aprender a produzir seus próprios sabonetes e xampus sólidos de maneira natural, livre de sulfatos, conservantes, corantes artificiais, sebo animal e perfume sintético, conheça o e-book “A arte da saboaria natural” >>clicando aqui<<.
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Venha fazer parte dessa mudança também, seja fazendo seu próprio sabonete ou adquirindo sabonetes feitos artesanalmente por pessoas conscientes e que trabalham de maneira respeitosa com a natureza. Bons banhos!!
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REFERÊNCIA:
BARRY, N. A arte dos perfumes: colônias, óleos, sabonetes, sais de banho, velas -/Nicolas de Barry: tradução Marcos Macionilo – São Paulo: Editora Senac São Paulo: Boccato, 2012. Tem >>AQUI<<.
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Mona Soares
Farmcêutica, fitoaromaterapeuta e artesã de cosméticos naturais.
Professora de saboaria natural e cosméticos naturais.
Proprietária da marca Ewé Alquimias.