Como me tornei artesã de cosméticos (Parte III)

Eu continuo aqui mesmo 
 Aperfeiçoando o imperfeito
 Dando um tempo, dando um jeito
 Desprezando a perfeição
 Que a perfeição é uma meta
 Defendida pelo goleiro
 Que joga na seleção
 E eu não sou Pelé nem nada

 Se muito for, eu sou um Tostão.”
 Meio de Campo – Gilberto Gil


“Vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas”
  Massemba – Roberto Mendes


Esta é a terceira parte da minha história de como me tornei artesã de cosméticos. Quem quer saber como tudo isso começou, >>clica aqui<< para ler a primeira parte e >>aqui<< para ler a segunda.

 
 
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Sempre gostei de feiras livres. É um espaço que me atrai até hoje. Eu gosto de ir à feira, conversar com as pessoas, negociar, observar como se dão as relações e ver seu colorido e seu movimento. No comecinho da Ewé, foram nas feiras e bazares organizados de forma autônoma que eu vendi meus primeiros produtos. Nesses espaços eu pude conhecer muita gente legal. E foi aí que eu conheci uma pessoa que me fez um convite bastante esquisito na época. 

Ela me disse “você não gostaria de dar aulas de saboaria não?”. Eu pensei: “como assim, EU dar aulas de saboaria? Eu mal tinha começado a fazer sabão, como eu podia passar esse conhecimento adiante?”. Mas aí conversamos e resolvi aceitar mais esse desafio.

Dentro das minhas multipotencialidades está mais essa: dar aulas. Eu não podia esquecer de contar aqui que dei aulas de química durante dois anos no ensino médio de duas escolas públicas da região metropolitana de Salvador. Na época eu ainda fazia faculdade de farmácia e foi uma experiência maravilhosa. Eu me frustrava com inúmeras coisas que aconteciam, mas o saldo sempre foi positivo. Até hoje encontro ex alunos que me gritam na rua “professora!!!” e falam que estão se formando em uma universidade, ou fazendo mestrado ou doutorado. Isso me deixa tão feliz. Anos depois, já com a existência da Ewé eu fui convidada para dar aulas de química em um cursinho pré-vestibular para um quilombo na cidade de Cachoeira (recôncavo baiano) e pude confirmar que eu simplesmente saía feliz da vida após uma aula.


dando-aula
Euzinha, dando aula de saboaria natural
no Capão – Chapada Diamantina


Partindo do princípio que nossos dons não nos pertencem, comecei a dar aulas de saboaria. No início era uma oficina prática, onde eu ensinava a fazer a base do sabão natural do zero e como incorporar ervas através da feitura de extratos vegetais. Cada aluno recebia um livreto com o conteúdo abordado e levava uma barrinha de sabão pra casa. Como já disse, acho muito importante o papel do educador em nossa sociedade. Nunca fez sentido pra mim saber algo e não passar isso adiante. Eu sempre acreditei que as pessoas podem fazer tudo aquilo que elas desejam. Hoje não dou mais aulas de química, mas aliando a minha vontade de passar adiante o que sei e estimular a autonomia das pessoas, dei continuidade ao projeto dos cursos paralelamente à produção dos cosméticos. 

Outro motivo que me fez dar aulas, foi o fato da Ewé ser uma marca pequenininha e querer continuar sendo assim. Eu não tenho pretensões de transformar a Ewé numa indústria. A Ewé é como se fosse aquele restaurante de comida caseira, que tem uma portinha na frente e que você come uma comidinha gostosa, saudável, fresquinha e fica batendo papo com a cozinheira enquanto come. Eu gosto disso. E percebendo o aumento das vendas, e da minha incapacidade de como artesã atender toda essa demanda, pensei que ensinando o que aprendi, teriam mais pessoas fazendo o próprio cosmético com conhecimento e responsabilidade e assim eu poderia diminuir o meu trabalho no laboratório. 

julia
Júlia foi minha aluna de uma das
primeiras turmas de saboaria natural


Como adepta da filosofia “faça você mesmo”,  meu principal objetivo como professora é mostrar aos alunos que é fácil fazer cosméticos. Claro que é necessário que se tenha seriedade, responsabilidade  e cuidado, mas qualquer pessoa disposta a aprender, pode fazer seu próprio sabonete, xampu, creme e desodorante. O sentido de aprender algo, aplicar na própria vida e ver dar certo é poder ensinar outras pessoas a fazer o mesmo. Outra vantagem é que para fazer cosméticos não são necessários investimentos em equipamentos caros e matéria prima difícil de encontrar. A maioria dos utensílios são vendidos em lojas que vendem equipamentos para cozinha e os ingredientes estão em mercados e lojas de produtos naturais. O laboratório de um artesão de cosméticos nada mais é do que uma cozinha que tenha fogo e água. Que cozinha você conhece que não possui esses dois elementos?

Atualmente ministro três  cursos: um de saponificação a frio, onde ensino a produzir sabonetes do zero, outro de saponificação a quente, onde ensino a produzir sabonetes e extratos de ervas (para saber a diferença entre esses dois métodos, >>clique aqui<<) e um curso de cosmetologia natural e pretendo ampliar mais ainda a cartela de cursos. Estou sempre estudando e fazendo cursos sobre cosmética, saboaria, meditação, sagrado feminino, curas naturais, fitoterapia, aromaterapia e  à medida que vou incorporando esses conhecimentos em minha vida e observando resultados positivos, por que não ajudar outras pessoas com eles?

Concluo aqui a trilogia da minha vida (risos). O texto acaba, mas a história continua. E eu continuo sonhando, criando e tendo a satisfação de ser eu mesma e me descobrir cada dia dentro e fora da Ewé.  Obrigada a todo mundo que tirou esse tempinho para me conhecer melhor. 


Mona Soares
Farmacêutica, fitoaromaterapeuta e artesã de cosméticos naturais
Professora de saboaria natural e cosméticos naturais
Proprietária da marca Ewé Alquimias
www.ewealquimias.com.br
[email protected]